Assim como seus colegas dos EUA e da América do Sul, os produtores de trigo australianos estão cada vez mais à mercê de eventos econômicos em lugares como a China e a Rússia. Enquanto a Austrália é, sem dúvida, um importante produtor (cerca de 3% do total global) e exportador (cerca de 1,9% da produção global) de trigo, seu papel agora enfraquece-se em comparação com o crescente domínio da região do Mar Negro (Figuras 1 e 2). O custo global da produção de trigo é altamente influenciado por eventos na área do Mar Negro, e pelo rublo russo.
Dado o domínio da produção da região do Mar Negro, não seria surpresa os preços do trigo em dólar dos EUA (USD) oscilarem muito com os altos e baixos do rublo russo (RUBUSD). Uma vez que a Rússia e a vizinha Ucrânia são, de longe, as maiores exportadoras de trigo do mundo, mudanças no valor de suas moedas seguem um longo caminho para mudar o custo marginal da produção de trigo (Figura 3), milho e de outras commodities.
Confira nosso artigo sobre a economia australiana:
Os produtores australianos de trigo podem encontrar algum consolo no fato da moeda australiana protegê-los parcialmente dos movimentos nos preços do trigo. A Figura 4 mostra um nível significativo de movimento simultâneo: quando os preços do trigo caem, o dólar australiano (AUD) tende a enfraquecer-se e vice-versa. Para tanto, os custos denominados localmente para os produtores australianos como os de remunerações, salários e impostos de propriedade tendem a mover-se na mesma direção que o preço global do trigo. O que é mais difícil discernir na Figura 4, entretanto, é o nível de volatilidade relativa com a volatilidade real do AUD ampliada pela escolha de escala.
Os preços do trigo são cerca de 3,5 vezes mais voláteis que do AUDUSD (Figura 5). Como tal, o movimento simultâneo do AUDUSD com os preços do trigo absorve menos de 30% do risco do movimento nos preços do trigo. Além disso, não é útil em compensar os custos globais da produção de trigo, como o preço do combustível, pesticidas, fertilizantes, equipamentos agrícolas e outros produtos. Assim, se assumirmos que, aproximadamente, a metade do custo da agricultura é determinada localmente e a outra metade determinada globalmente, o movimento simultâneo do AUDUSD com o preço do trigo, provavelmente, absorve apenas cerca de 15% do risco geral de preço de um agricultor australiano. Isto implica que fazer o "hedge" ainda pode ser útil.
Apesar de suas diferenças em volatilidade, AUDUSD, RUBUSD e os preços do trigo compartilham um denominador comum: respondem fortemente às condições econômicas na China. Quando o crescimento da China aumenta, tende a elevar o preço da energia e dos metais industriais, o que, por sua vez, fortalece as moedas dos principais exportadores de recursos, como Rússia, Brasil e Austrália. As moedas mais fortes de exportadores de commodities aumentam o custo marginal da produção de trigo, milho, óleo de soja e de outras commodities agrícolas. O oposto acontece quando a China se desacelera: o crescimento mais fraco reduz a demanda por energia e metais, normalmente reduz o valor das moedas de exportadores de commodities e, assim, reduz o custo marginal de produção para os principais produtos agrícolas, incluindo o trigo.
Existem várias maneiras de medir o crescimento chinês. Embora o produto interno bruto oficial seja o parâmetro mais observado do progresso econômico da China, medidores alternativos como o “Índice Li Keqiang” se correlacionam fortemente com os movimentos subsequentes de um ano à frente nas taxas de câmbio e nos níveis de preço das commodities (Figura 6). O medidor Li Keqiang é especialmente útil porque tem como alvo o desempenho da economia industrial da China, concentrando-se no consumo de eletricidade, nos volumes de frete ferroviário e no montante de empréstimos bancários. A economia industrial, muito mais do que o setor de serviços, influencia a demanda global por energia e metais industriais e, por extensão, as moedas de exportadores de commodities e os custos de produção agrícola.
Nossos artigos sobre o Índice Li Keqiang:
Embora o PIB oficial chinês tenha mostrado um alto grau de estabilidade nos últimos sete anos devido, em grande parte, ao aumento do papel dos serviços e do consumo doméstico na economia e à reduzida dependência das exportações, o índice Li Keqiang mostra uma variação muito maior do crescimento econômico, com uma desaceleração muito mais acentuada de 2011-2016 e uma recuperação muito mais evidente entre 2016-17, seguida de alguma desaceleração adicional desde então (Figura 7). Os preços do trigo tendem a seguir esses movimentos com uma defasagem de cerca de um ano (Figuras 8 e 9).
Os produtores de trigo australianos podem se sentir confortáveis com a robusta condição fiscal na Rússia. O Kremlin tem um superavit orçamentário de 2-3% do PIB e níveis extremamente baixos de dívida. Sua saúde fiscal pode tornar o rublo uma moeda relativamente forte entre os mercados emergentes para o provável benefício dos agricultores de trigo nos EUA, na Austrália e em outros lugares. Dito isto, a Rússia ainda é extremamente dependente das exportações de commodities, e a economia da China ainda desempenha um papel descomunal. O PIB da China é 5 vezes o da Índia, 6 vezes do Brasil e 7 vezes da Rússia. Ela consome 40-50% da maioria dos metais industriais e 67% do minério de ferro, uma das duas maiores exportações da Austrália, juntamente com o carvão. Em suma, nenhum outro país ou grupo de países pode facilmente substituir a demanda da China, caso ela falhe.
Embora a economia da China tenha resistido bem à guerra comercial – as medidas de estímulo da China compensaram amplamente o impacto negativo das tarifas mais altas dos EUA – o país deve enfrentar vários problemas estruturais durante os anos 2020, incluindo um declínio de 5% na população economicamente ativa até 2030, um abrandamento dos ganhos de produtividade da transição rural-urbana e níveis extremamente elevados de dívida (Figura 10). Esses fatores poderiam contribuir para uma desaceleração significativa da economia chinesa na década de 2020, independentemente do resultado da guerra comercial.
O que acontece em Washington também é importante, especialmente porque o USD é o outro lado da taxa de câmbio do AUDUSD. Nos últimos oito anos, o USD tem sido uma moeda forte, fazendo "rally" contra o AUD e a maioria das outras moedas desde 2011. Um AUD mais fraco ajudou os agricultores australianos a manter a competitividade, apesar do declínio nos preços em USD para o trigo. A expansão dos deficits orçamentários e comerciais dos EUA poderia enfraquecer o USD. Caso isso ocorra, pode colocar o preço do trigo sob pressão de alta, contrabalançando parte do impacto negativo de qualquer desaceleração na China.
O que acontece com o preço em AUD do trigo depende do AUD se beneficiar da fraqueza do USD. Parece provável que os principais beneficiários da fraqueza do USD sejam as moedas com baixas taxas de juros, cujos bancos centrais terão dificuldade em afrouxar ainda mais, como o euro, a libra esterlina, o franco suíço e o iene. Dada a dependência da Austrália da China para comprar suas exportações e a particular vulnerabilidade das duas principais exportações da Austrália (carvão e minério de ferro), os produtores de trigo australianos podem sobreviver a uma fraqueza do USD, desde que o AUD não se fortaleça significativamente.
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